09/06/2021 - Pequeno Expediente Dr. Yglésio Yglésio Moyses

Yglésio Moyses

Aniversário: 19/09
Profissão: Médico

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O SENHOR DEPUTADO DR. YGLÉSIO (sem revisão do orador) – Senhor Presidente, eu ia até fazer um comentário aqui a respeito da Coronavac, mas eu vou precisar, até para contextualizar porque eu me senti até um tanto quanto incomodado com o comentário do meu querido colega, Deputado Zé Inácio, em relação à fala sobre a Sputnik, até porque eu fui umas das pessoas que levantaram a discussão a respeito da aprovação da vacina aqui para o uso em caráter experimental. Acho que o Zé Inácio sabe muito bem que eu não sou “bolsonarista”, que eu não sou negacionista, então, eu vou precisar fazer alguns reparos importantes na fala dele. Primeira coisa, a vacina Sputnik, nós não temos dados de segurança da vacina até hoje. Por que a gente não tem? Porque os estudos até hoje da Rússia nunca foram abertos para a revisão de outros pesquisadores. Surgiu um artigo no Lancet que foram colocadas ... que nunca foram validadas por outras publicações. O que aconteceu? O Presidente Vladmir Putin, quando eles colocaram o lançamento da Sputnik 5, na época, eles disseram que havia uma previsão de 700 milhões de doses de vacinas para o mundo, mas até hoje eles só conseguiram produzir 15 milhões de doses. Por que isso aí aconteceu? Primeiro ponto, eles têm dois laboratórios, dois grandes laboratórios que são conveniados com o Instituto de Gamaleya que desenvolveu, apenas um dos laboratórios consegue fazer o imunizante por conta da mínima condição logística, segundo os próprios russos. Não à toa que apenas 6% da população da Rússia aceitou ser vacinada com a vacina Sputnik V, ou seja, se a própria população do país não confia na vacina, é sinal de que há uma desconfiança grande em relação à segurança da vacina por conta do próprio povo russo, não foi o Bolsonaro que foi até a Rússia para fazer o povo russo desconfiar da vacina. Eu acho que há muito mais em relação a isso, mas vamos esquecer a política de lado, porque aqui em relação à medicina, saúde pública, eu falo sempre como um técnico e como tal eu preciso esclarecer. O que é a vacina Sputnik V? Primeiramente, ela foi considerada uma vacina com dois adenovírus. Na primeira dose, ela tem um adenovírus e, na segunda dose, ela tem outro tipo de adenovírus. A fabricação da segunda dose, o segundo adenovírus, é muito mais complicada do que a primeira, tanto que a Rússia tem dificuldade de produzir a primeira dose. O que acontece? Eles agora inventaram uma versão Sputnik light, que apresenta apenas a primeira dose da vacina, ou seja, a própria Sputnik V já foi reinventada recentemente na Rússia, com eficácia cerca de 12% a menos, que a gente tem comprovações disso. Eu tive a oportunidade, junto com a minha equipe, de acompanhar o julgamento técnico da Anvisa e, diferente do que o Deputado Zé Inácio falou, foi um julgamento unânime, eles acordaram em colocar 1% das doses da vacina em caráter experimental, e isso não é politicagem da Anvisa. A Anvisa é um órgão técnico, eu conheço o trabalho da Anvisa desde que morei em São Paulo, aquelas pessoas que têm lá são técnicos de altíssimo gabarito, não são pessoas influenciáveis politicamente, talvez a influência política tenha sido no sentido contrário, de permitir a colocação de uma dose de uma vacina desconhecida, de um instituto que não abre as suas portas para que outras agências sanitárias inspecionem. É o exemplo de um restaurante. Presidente, você chega num restaurante e você quer saber a qualidade da comida, todo o restaurante ele tende a permitir que o cliente visite, inspecione a própria cozinha, por quê? Porque ele tem que mostrar as boas práticas em administração da cozinha, da mesma forma o laboratório que não mostra para uma agência regulatória a qualidade das suas instalações, ela está escondendo algum tipo de problema. Portanto, nós temos hoje a previsão de mais de 70 milhões de doses da Pfizer, um grande imunizante, aqui no Maranhão a gente já tem cerca de 972 mil doses da vacina da AstraZeneca, que é uma vacina muito boa, que, diga-se de passagem, ela reduziu brutalmente os casos de covid-19 no Reino Unido, nos Estados Unidos, eles com  a vacinação de 48% da população com a vacina da Pfizer, da Janssen, e são essas as principais vacinas lá, eles quebraram absurdamente também, eles já estão num cenário  de retorno a nova  normalidade. E assim, há expectativa de novas vacinas no Brasil, Butanvac, vacina produzida no Ceará. Vacinas que vão poder ter uma comprovação científica melhor que a Sputnik, e, diga-se passagem, a vacina da AstraZeneca custa quatro dólares e cinquenta, a Sputnik custa nove dólares e noventa. Não tem sentido hoje, o tempo dessa discussão da Sputnik já passou, você vê que os próprios governadores do Consórcio Nordeste,  eles já deixaram isso aí de lado, vocês vão ver que não vai ter insistência disso por parte dos governadores, está chegando agora e vão ser aplicadas 03 milhões de doses da vacina da Janssen até o dia 27, porque são vacinas  que vão chegar com o prazo de validade um tanto exíguo,  e que vão vacinar  muitas pessoas com  a vantagem  de ser uma dose única  de uma vacina com mais de 90% de eficácia. E a gente precisa é menos política, menos apontar dedo para dizer que o coleguinha é negacionista,  e mais análise técnica como essa que a gente está  fazendo. Por falar em análise técnica, hoje, mudando aqui rapidinho porque acredito que esse pronunciamento tenha importância informativa grande para sociedade em geral, falar um pouquinho da Coronavac. A gente de maneira empírica tem observado que muitos pacientes, eles têm vacinado com duas doses da Coronavac e tem ido a óbito, ou tem sido entubado, os casos graves estão acontecendo, pacientes com duas doses da vacina. Uma vacina que inicialmente prometia uma entrega de 50,08% de eficácia, com 78% de resposta em casos leves e 100% de proteção a óbito. Isso aí na saúde, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas conversam com a gente direto, estão morrendo muitos pacientes com duas doses de Coronavac. O que a gente observou? Saiu recentemente um estudo chamado Vedra Covid-19, que é um estudo que vê a eficácia da vacina em pacientes acima de 70 anos. O que ele observou? Ele fez um recorte de 3 faixas etárias acima de 70 anos. O primeiro recorte, faixa etária de 70 -74 anos. O que ele observou?  Eficácia de 61,8% da Coronavac nesse subgrupo, porém, o intervalo de confiança, que é a faixa em que  a vacina pode funcionar, ela pode funcionar em 33% até 77% das pessoas, ou seja, vai ter cenário em que  a Coronavac entre 70 -74 anos,  vai funcionar em apenas em 33% das pessoas com essa primeira faixa etária. Na faixa etária de 75 a 79, a eficácia foi de 48%. E como é que foi o intervalo de confiança desta vacina? De 28% a 66%, ou seja, uma vacina que tem uma eficácia que pode chegar a 28% apenas em relação aos pacientes. E aí a catástrofe completa é quando chega na faixa etária... que nessa faixa etária tem apenas 28% de eficácia, e que tem um intervalo de confiança de 0,6% até 48%, que não dá nem para chamar de vacina nessa faixa etária. Então, ontem, a gente começou a protocolar representações para as Defensorias Públicas Estadual e da União, o Ministério Público Estadual, o Ministério  Público da União, hoje, a gente já vai mandar para  a União também, para que se ingressem com ações civis públicas em nível estadual, em nível federal, para que a população acima de 70 anos que tomou Coronavac seja revacinada,  para que os profissionais de saúde  sejam revacinados acima de 60 anos, porque são altamente expostos ao vírus e para que as pessoas com comorbidades também, nessa faixa etária acima de 60 anos sejam revacinados. Não e à toa que o Ministério da Saúde reduziu, vem reduzindo bastante o aporte de Coronavac nos seus lotes de vacinação, aqui no Maranhão, a gente tem cerca de 980 mil doses de Coronavac já enviadas, recebidas, na verdade, 962 mil lotes de AstraZeneca vacinados e em torno de recebimento de mais 70 mil doses da Pfizer que já começaram a ser distribuídos. Estamos chegando na verdade perto de 100 mil doses da Pfizer. Um dado importante, o Brasil não vacinou com segunda dose apenas 1% da população, diferentemente do que o colega Zé Inácio falou, nós estamos com 23% de primeira dose e 10% de segunda dose, o que é muito pouco, mais isso pode ser explicado por vários fatores. A segunda dose da AstraZeneca, por exemplo, ela está sendo feita com dois meses de retardo, então isso vai aumentar esse ato mesmo, quanto mais tempo... quanto mais vacina da AstraZeneca e da Pfizer a gente tiver maior vai ser esse ato de vacinação: primeira dose e segunda dose. Então, claro que isso mostra o quê? Que a gente tem que avançar no processo de vacinação. Então, nós vamos continuar encampando essa luta, a gente quer que as pessoas sobrevivam, eu mesmo perdi uma tia, no final de semana, com duas doses de Coronavac há mais de mês. Sabe por quê? Porque as pessoas idosas chegam à conclusão de que estão vacinadas e começam... até a gripe elas acham: ‘não, eu já me vacinei, eu tomei as duas doses de Coronavac, eu estou vacinada, essa tosse que eu estou sentindo é uma gripe, essa febre que eu estou tendo é uma gripe’. E aí elas esperam uma semana, oito, dez dias para ir para o hospital. E quando chegam ao hospital, morrem por desinformação. Tudo isso aí que a gente vai combater. As mortes dessas pessoas que estão acontecendo por Coronavac, com duas doses, não só por Coronavac, desculpe a expressão, mesmo com duas doses de Coronavac, para não ser injusto com a vacina, que funciona bem em jovens e continua sendo uma vacina importante, em nenhum momento a gente quer desmoralizar a Coronavac, ela tem uma importância grande, mas a gente tem que deixar muito claro: os pacientes idosos estão desprotegidos, os profissionais da saúde continuam muito expostos se estiverem unicamente vacinados por Coronavac. Para você ter uma ideia...

O SENHOR PRESIDENTE DEPUTADO OTHELINO NETO - Deputado Yglésio, precisamos que V.Exa. conclua, embora o pronunciamento seja muito importante.

O SENHOR DEPUTADO DR. YGLÉSIO - Vou concluir. Então, a primeira dose da Coronavac não tem nenhuma proteção, a pessoa não tem nenhuma proteção, é zero em relação a contrair a doença, precisa das duas doses. A vacina da Pfizer e da AstraZeneca, na primeira dose, a da AstraZeneca já dá 76% de proteção e já reduz 50% a cadeia de transmissão. Então, a gente tem que procurar melhores vacinas, vacinar os mais vulneráveis. Mantenho aqui a pauta de vacinação dos hipossuficientes até porque a pessoa de 38 anos que tem carro e pode ir para um drive-thru não é a mesma pessoa de 38 anos que mora numa favela, num cômodo, numa casa que tem 10 pessoas dentro, que ela não tem o dinheiro da passagem para ir se vacinar, ela não tem carro e nem moto para ir ao drive-thru. Então, são essas as considerações que a gente tem, Senhor Presidente. Eu agradeço pelo avançar do tempo, peço desculpas aos colegas, mas considero que seja um pronunciamento de suma importância e de caráter informativo para a gente tirar essa política partidária do tema vacinação e a gente gastar, concentrar nossas energias em vacinar o nosso povo e salvar vidas. Muito obrigado.

O SENHOR PRESIDENTE DEPUTADO OTHELINO NETO – Deputado Yglésio e Deputado Zé Inácio, essa discussão em torno das vacinas é uma discussão que ainda vai durar algum tempo. As vacinas contra o coronavírus foram produzidas muito rapidamente, então, a cada período que vai passando, nós vamos lendo análises diferentes com relação a uma e à outra vacina. O fato é que a preocupação do Deputado Yglésio é pertinente. Certamente, os profissionais de saúde, especialmente os pesquisadores, estão acompanhando essa questão específica da Coronavac. Nós precisamos, claro, ter cuidado para não criar um pânico nas pessoas que tomaram a vacina e achar que elas estão absolutamente desprotegidas. Essa discussão só terá uma solução prática a partir de uma nova definição no Plano Nacional de Imunização, mas a provocação, claro, é útil, mas que essa discussão seja travada mesmo de forma científica para que, caso seja necessário, como defende com muita ênfase o Deputado Yglésio, que, aliás, trouxe algumas informações importantes para todos nós, possa efetivamente ser alterada para que não só os idosos, mas todos nós estejamos protegidos com a vacina. 

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