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O SENHOR DEPUTADO CARLOS LULA (sem revisão do orador) - Senhora Presidente Iracema Vale, senhores deputados, senhoras deputadas, galeria, quem nos assiste pelos mais diversos meios de comunicação. Senhora Presidente, eu subo à tribuna, hoje, deputado Eric, para tratar de um tema que tenham evitado tratar nessa Casa, porque eu entendo que é um tema que faz parte de nossas convicções pessoais. Então, muitas vezes, não vale fazer o debate público, uma vez que, diferente dos assuntos de estado, a religião, a fé é um assunto interno. Eu tenho minha fé. Eu sou cristão. Eu sou católico. Mas não poderia deixar de manifestar, senhora presidente, diante do incidente que aconteceu com o padre Júlio Lancellotti, em São Paulo. E é uma indagação que eu faço, de até quando, as nossas lideranças religiosas continuarão sendo ameaçadas? Para quem não sabe, o padre Júlio recebeu o seguinte bilhete, que eu faço questão de ler, aqui da tribuna. Padreco de... Eu vou evitar o palavrão. Pensa que aqui é partido político. Defensor dos direitos dos bandidos. Petista vagabundo. Usa o povo para te favorecer. Seu dia de reinado vai acabar, pode esperar... E eu quero dizer, senhora presidente, que não é de hoje que a ação social do padre Júlio é alvo de críticas, alvo de ataques. O padre Júlio, contudo, tem uma obra respeitável, de muito mais de 40 anos de atuação. Assim como qualquer líder religioso, ou como qualquer pessoa, o Padre Júlio erra e acerta. Mas uma coisa chama atenção, o teor e a gravidade das ameaças que ele sofreu, por tudo que ele representa. O Padre Júlio exerce a palavra de Cristo no sentido que eu aprendi desde criança; Cristo estava do lado dos desvalidos, Cristo estava do lado das prostitutas, Cristo estava do lado de quem pecava. E a palavra de Cristo sempre foi de entender, sempre foi de acolher, nunca foi de afastar, nunca foi de apontar o dedo. O Cristo que eu conheci na Bíblia, o Cristo que eu entendo, ele estava sempre do lado dos mais pobres, sempre do lado de quem mais precisava. E é essa a palavra de Cristo que o Padre Júlio Lancellotti trabalha todos os dias. Então, o trabalho dele representa algo caro, não só para o Cristianismo, não só para os católicos, mas para todos que realizam trabalho como ele faz, para cuidar de quem está na lama, de quem não tem mais casa, de quem passa fome, de quem é dependente químico e mora na rua. Essa obra do Padre Júlio ela não é individual, ela é parte de uma doutrina e de um ensinamento, que é a minha fé; a fé em Cristo e no exemplo dele. E atentar contra isso é atentar contra os ensinamentos do Cristianismo. Então, eu queria dizer duas coisas importantes, senhora presidente, e eu já peço um minuto a mais para poder encerrar a minha fala. Primeiro, ao padre Júlio e a todos os padres do Maranhão, do Nordeste e do Brasil. Eu reconheço e valorizo o trabalho de vocês. Vocês são importantíssimos para a nossa sociedade. O trabalho de vocês, evidencia, todos os dias, que não podemos nos calar diante das desigualdades e não podemos achar que nossa sociedade é justa. É um lembrete diário que a fome está à nossa volta e que precisamos, sim, trabalhar de maneira incessante contra ela. A gente só vai ser feliz quando o pobre for feliz também. Eu só vou me sentir saciado quando o pobre não passar mais fome. E eu quero pedir aqui, senhora presidente, em razão disso, e contar com a colaboração dos colegas. Eu estou dando entrada numa sessão solene em homenagem à Fazenda Esperança que tem um trabalho de tantos anos em favor de dependentes químicos no estado do Maranhão, mas também como uma justa homenagem a todos os padres maranhenses. Nosso papel do Legislativo é fortalecer essas ações da sociedade civil, reconhecer seu valor e dar condições para o pleno funcionamento. A gente não pode regredir e permitir que o ódio tome conta de nossas vidas. O ensinamento de Cristo sempre foi sobre amor, nunca foi sobre ódio, sempre foi sobre perdão, nunca foi sobre apontar dedo. Que a gente possa, todos os dias, colocar fim à intolerância que muitas vezes ainda avança em nossa sociedade. Obrigado.