12/09/2023 - Grande Expediente Dr. Yglésio Yglésio Moyses

Yglésio Moyses

Aniversário: 19/09
Profissão: Médico

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O SENHOR DEPUTADO DR. YGLÉSIO (sem revisão do orador) - Senhora presidente, senhoras e senhores deputados, hoje eu subo à tribuna para falar de um 7 de setembro que tem uma parte que nos traz uma saudade. Apesar de não ter conhecido esse grande personagem da nossa história política maranhense e, coincidentemente, Joaquim, eu estou com minha filha hoje aqui e tenho certeza de que teu pai te levou várias vezes à Assembleia, e fico muito emocionado nessa caminhada de poder falar hoje um pouquinho dele, um grande motense, foi presidente do Moto também, foi deputado estadual, 20 anos deputado estadual. Eu estou no segundo mandato e não sei quantos mais terei, mas tem um grande cidadão aqui chamado Arnaldo Melo que conheceu o teu pai, e eu tenho certeza de que, daqui a pouquinho, ele vai querer falar um pouquinho sobre ele. Um filho separado aí que dizem que existe no mercado chamado Roberto Costa, que também vai querer. Claro, quem mais quiser participar dessa fala vai ser muito bem-vindo. Tive a oportunidade de sumarizar aqui num discurso até para não me perder porque as ideias, muitas vezes, quando nós temos esses personagens que são icônicos, que são pessoas muito vívidas em várias áreas da vida, em várias dimensões, não só da política, mas do trabalho também como comerciante, como cidadão na vigência também de uma atividade esportiva na sua história, então tem muita coisa a falar do Nagib. Para organizar, nada melhor do que um discurso em que a gente contou com o auxílio muito grande de um escritor, cineasta, uma pessoa muito importante aqui na nossa cultura maranhense. Eu assumo a tribuna para falar desse personagem único do estado, principalmente da história desta Casa. Começa a colocar as fotos aí, por favor, porque muitos, como já faz 30 anos, deixou um 07 de setembro mais triste em 1993. Eu falo do Deputado Nagib Haickel, que presidiu esta Casa, inclusive dá nome a este plenário, entre fevereiro e setembro de 93, quando, no dia 7, veio a falecer por complicações de uma doença cardíaca que deixava o coração grande. O coração grande, como os amigos e os filhos e todos que circularam ao redor dele disseram que ele tinha, morreu na cidade de Coroatá. Nagib poderia ter nascido no Líbano, uma vez que seus pais, Elias e Maria Haickel, primos legítimos, primo se gostava muito naquela época, hoje é mais difícil a gente ter essa coisa de primo, que o pessoal fica colocando medo, os pais não gostam tanto, mas, antigamente, a família estimulava, eles eram provenientes do Líbano, mas, por obra do destino, Nagib veio ao mundo em Pindaré Mirim, entre uma das milhares de curvas do rio Pindaré, esse rio tão grandioso que serpenteia nosso estado, da Serra do Gurupi até o seu desembocar no Mearim, quase chegando à Baía de São Marcos, que abraça a cidade de São Luís no seu lado ocidental. Quando o avô do Nagib, o Thanos Haickel, chegou ao Brasil, ele aportou em Belém para em seguida vir a São Luís. Aqui, conversador como era, fez contato com seus patrícios e decidiu ir para Viana, uma das cidades mais antigas do nosso estado, mas por lá também não ficou, foi para o povoado de São Pedro, no município de Monção, que depois se transformou em Pindaré-Mirim, Monção, para quem não sabe, deu origem a vários municípios daquela região. Lá chegando, ficaram próximos ao pátio do Engenho Central São Pedro e aí começaram a fazer o que o árabe sabe fazer melhor, que é trabalhar e ganhar dinheiro. Comercializavam gêneros de primeira necessidade com a população. Não demorou muito para a família Haickel se tornar uma das mais influentes no comércio, uma vez que compravam gêneros dos produtores locais, vendiam para os industriais em São Luís e traziam na volta artigos que os vizinhos necessitavam: ferramentas, tecido, combustível. Enxergaram uma oportunidade em meio ao absoluto caos do vazio econômico que existia na cidade. Nagib é o terceiro filho de Elias e Maria, que, como não poderia deixar de ser, mandaram os filhos estudar na capital. Ele estudou, mas com 13 anos de idade começou a trabalhar na empresa do Abud, que também pertencia aos libaneses. Essa turma teve um impacto econômico muito importante, a família Abud, inclusive, foi uma das que tiveram o primeiro presidente do Moto Clube de São Luís. Meus caros amigos, colegas deputados e deputadas, alguns de vocês não tiveram a oportunidade de conhecer ou até mesmo ouvir falar, como nós temos aqui, Deputado Davi Brandão, que é um menino maravilhoso, um jovem, nasceu já não existia mais o Nagibão, mas quem conheceu, como o Deputado Arnaldo Melo, sabe que eu estou falando de uma pessoa extraordinária, um homem com uma inteligência incomum, de uma sensibilidade aguçada, de um coração gigantesco. Coincidentemente, porque a vida, isso aqui é uma passagem, isso aqui é temporário, provisória, nós somos inquilinos aqui da existência, o Nagib faleceu com o coração grande, uma doença, uma cardiomegalia, que provavelmente levou a uma insuficiência cardíaca congestiva e ao falecimento, a passagem. Esse tipo de personagem, eu olho muito, falando com o Joaquim, o pai dele, como a minha tia, parece que eles estão ainda circulando aqui. Essas pessoas elas não vão embora, essas pessoas que são ativas, que são vívidas, que são pujantes na sua existência. Quem conheceu, por exemplo, Bráulio, coloca essa foto de Bráulio, foi uma foto importante, ali o Nagibão está meio zangado, está que nem uma foto minha ali. Vamos lá, tem uma foto de Bráulio ali que precisa fazer esse registro. Cadê a de Bráulio, gente? Não, espera aí, a última, eu acho, lá para final, gente, não, é Lobão, vamos lá mais uma, Sarney, vamos lá. Ali Joaquim, Castelo, a turma ali, cadê? Final, gente. Gente, a última. Voltaram para começo. Bráulio, tiraram a sua foto, Bráulio, acidentalmente. O Bráulio ainda tinha cabelo nesse período. Está ali, olha ali, Bráulio está acima dele, eu sei que está muito diferente, ele está parecido Ciro Gomes, quando era novinho ali. Está a cara do Ciro Gomes, mas é Bráulio ali. Então, vocês para terem noção do que esse homem tem de história nessa Casa. Bráulio era assessor do Nagibão, lá na sede do Poder Legislativo, na época da Rua do Egito. Ele sabe o valor daquele homem simples, que era duro, as frases com ele eram contundentes. Parecia que estava brigando, mas, no fundo, era um cara atencioso. Parece até com um amigo que ocupa essa tribuna agora. Muitos de nós só conhece o Nagib, porque ele dá esse nome ao plenário, e eu acredito que registrar acontecimentos de vida, de homens como Nagib Haickel, deputado Júlio, é uma das coisas que dá sentido à nossa atividade também. Porque quem aqui está na política busca fazer algo pelo seu semelhante e busca também ter a lembrança no coração deles, com certeza, se não nenhum sentido teria. Se fosse só por poder, poder é efêmero, hoje o cara aqui está deputado, depois ele não está, ele é governador, depois ele vira um cidadão comum. Triste é o homem que se engana com a permanência do poder, porque vai ser um depressivo lá na frente. Quem entende a perenidade das coisas consegue dimensionar isso. Então, trazer isso, falar do Nagibão quem criou ali a primeira loja 24 horas do Brasil, a MERUOCA, que implantou o supermercado em sua porta. Enchia de Kombi, aquele saudoso carro tão romântico que está sendo reeditado agora pela Volkswagen em versão elétrica, Deputado Nagib, o Senhor que gosta dessas coisas modernas, né! O que que acontece? ele circulava ali com um monte de Kombi naqueles comércios dos bairros mais distantes. Alguém já disse: Nagib começou sendo um craque no comércio, depois se transformou num cara genial na política. Dizia que dava um boi para não entrar numa briga, mas dava uma boiada para não sair dela. E explicava, isso não é sem estratégia. O que é que ele dizia: faço de tudo para não entrar num embate, mas só saio dela se sair com a vitória, caso contrário, luto até o fim. Outra frase que ele dizia, isso aqui eu me identifiquei, de uma maneira muito verdadeira: o difícil se faz logo, o impossível só demora mais um pouco. Porque se nós somos capazes de sonhar nós somos capazes de executar. Porque o altíssimo Deus, ele só planta no nosso coração a semente do que o homem pode fazer.

 

O SENHOR DEPUTADO JÚLIO MENDONÇA – Deputado Yglésio.

 

O SENHOR DEPUTADO DR. YGLÉSIO - Do que ele pode desejar.

 

O SENHOR DEPUTADO JÚLIO MENDONÇA – Deputado Yglésio, V.Exa., pode me conceder um minuto de aparte?

 

O SENHOR DEPUTADO DR. YGLÉSIO – Por favor, deputado Júlio.

 

O SENHOR DEPUTADO JÚLIO MENDONÇA (aparte) - Deputado Yglésio, primeiro parabéns, porque eu acho que você consegue rever, de fato, a história política do nosso Estado, e saudar o nosso querido deputado Joaquim Haickel, e dizer assim, numa breve passagem, eu sou de Viana, e era criança, e o Nagib tinha um amigo lá chamado Valber Duailibe, e o Valber também era uma figura folclórica, que o Bráulio conhece muito, e o deputado Nagib, na época, claro que eu era criança, e era muito conhecido pelo seu carisma, e, acima de tudo, pelos bombons, também, que ele jogava para as crianças, então, eu corri muitas vezes atrás dos carros de bombom jogados lá de cima, era uma festa danada. Então, a presença de Nagib, em Viana, para a criançada, que a gente não compreendia direito aquilo ali, tudo era festa, mas eu ainda me cortei nos cacos de vidro, ainda correndo atrás dos bombons, e eu quero fazer... faz parte da minha história de Viana, também, da lembrança da nossa cidade, a personalidade do Nagib, então, parabéns a vocês dois, tanto ao deputado Yglésio quanto ao deputado Joaquim Haickel, que está aqui, que hoje é um escritor e intelectual do nosso Estado. Então, minha saudação e parabéns ao senhor.

 

O SENHOR DEPUTADO DR. YGLÉSIO – Maravilha, obrigado, deputado Júlio. O Nagib ele se intitulava caboclo do Vale do Pindaré, tem inclusive um documentário, viu, Nagib, Joaquim, eu pesquisei, tem um documentário caboclo do Pindaré. Disponível aí no YouTube, tem vários capítulos. Então, ele gostava, não cansava de dizer que gostava de comer tapioca com manundé. Esse negócio de mandudé é coisa de baixadeiro, mesmo, que eles gostam. Conversando com Joaquim, então, ele me disse uma vez, ele perguntou: Papai, por que o Senhor é sempre governista? Joaquim era um filho meio rebelde, tanto que é boliviano e o pai motense. Então, o que ele dizia? Ele era incondicionalmente governista, por quê? Ele teve uma sacada que foi genial, ele explicou para Joaquim, aí, Joaquim, tu me confirmas se isso é verdade. No início dos anos 80, o fato do governador e dos governistas, como eles sabiam que ele era um cara governista, fazia com que todo mundo procurasse logo no início a ele, antes de qualquer outro deputado, e ele se transformava num líder não oficial do governo, só que sem ser líder, ele não tinha uma série de obrigações, mas ele tinha o prestígio de um líder. Então, o homem era sabido demais, parece um os dois aqui nessa Casa, que eu não vou declinar nomes, mas tem uns dois, não é, deputado Roberto Costa?

O SENHOR DEPUTADO ROBERTO COSTA – Verdade, eu queria até aproveitar e pedir um aparte.

 

O SENHOR DEPUTADO DR. YGLÉSIO - Esse momento é seu.

 

O SENHOR DEPUTADO ROBERTO COSTA (aparte) - Diz que tem um ditado em política que fala também, deputado Yglésio, que antiguidade é posto. E eu vendo aqui você fazendo esse discurso sobre o deputado Nagib Haickel, me causa até uma certa inveja, porque eu tinha dito para o Joaquim que ele disse para você que esse discurso, eu gostaria muito de fazer. Primeiro, pela amizade que eu tenho com o nosso amigo, ex-deputado Nagib Haickel, o Joaquim Nagib Haickel, aqui o nosso amigo, que foi um grande parlamentar, por onde ele passou, e que eu sempre digo que é um dos homens mais preparados que tem do Maranhão, o Joaquim. E eu fico muito feliz de poder, não estar fazendo discurso, mas sendo feito por você, também que é uma outra cabeça brilhante, mas poder dar a nossa participação, nesse momento, aí de 30 anos de falecimento do deputado Nagib, e eu era muito jovem, mas sempre gostei muito de acompanhar a política, e acompanho a Assembleia Legislativa, desde o primeiro mandato de 1990. E mais, eu sempre tive uma formação meio esquerdista em função da minha família, mas, nesta Casa, nesta Assembleia, sempre passaram cabeças brilhantes, umas com formações brilhantes, outras com aspecto político de uma intensidade muito grande, e aí eu destaco muito, como Vossa Excelência já relatou aqui, a história de Nagib Haickel. Eu conheci as histórias de Nagib, eu não convivi, porque não tive essa oportunidade, mas fiquei conhecendo exatamente como deputado estadual, como presidente da Assembleia. Ele conseguiu, durante todo o período que foi deputado, a sua vida não só política, mas também de comércio, ser uma figura conhecida em todo o Maranhão. A sua história, apesar da sua morte, continua viva e servindo de exemplos em vários momentos da vida política do estado. E uma das coisas para mim que se tornaram muito importantes, muito marcantes, é que o Nagib, a morte dele, naquele momento, foi um divisor de águas, porque a morte do Nagib conseguiu dar um novo direcionamento político para o Maranhão até hoje. Eu acredito que, se o Nagib estivesse vivo, inclusive naquela eleição de 94, acho que o destino político do Maranhão teria sido outro e, consequentemente, o que nós vivemos hoje aqui poderia não estar acontecendo, porque, naquele início lá, a mudança que poderia ocorrer na política, claro, faria referências até os dias de hoje, para você ver o poder político que o Nagib conseguiu ter em vida e em morte. Então, eu fico muito feliz de poder fazer essa homenagem a ele aqui e também ao nosso amigo Joaquim que é uma águia também na política do Maranhão, deixou a política quando realmente quis deixar. São poucas as pessoas que conseguem ter esse privilégio. O Joaquim conseguiu. O Joaquim foi político, foi deputado federal, foi deputado estadual e conseguiu se notabilizar mesmo sendo filho do Nagib, mas ele conseguiu ser o próprio Joaquim Haickel, o político de visão do Maranhão, mas dizem que filho de peixe peixinho é. Então veio de todo o ensinamento, de toda vivência que ele teve com Nagib. E eu fico muito feliz de poder estar aqui hoje comemorando esse aniversário porque eu acho que se comemora porque o legado do Nagib serve de ensinamento para todos nós que, às vezes, não tivemos a oportunidade de viver com ele pessoalmente, mas de conhecer a sua história, de conhecer a sua atuação, de saber exatamente de todos os momentos políticos que ele participou. E como eu disse: até hoje a vida política do Nagib continua sendo lembrada porque o aspecto da morte dele modificou a política do Maranhão. E isso até hoje a gente consegue vivenciar. Então, deixar aqui o meu abraço ao Deputado Joaquim, nosso amigo, ao Nagib também, à família dele e dizer que a história, apesar de ele dizer que sou muito parecido em alguns aspectos com ele, com o pai dele, mas é o físico, a vontade, a garra e, acima de tudo, porque político tem que ter uma coisa chamada coragem, e isso o Nagib demonstrou por onde passou.

 

O SENHOR DEPUTADO DR. YGLÉSIO – Obrigado. Maravilha. Muito bom ter um depoimento como esse. No início dos anos 70, ele arrumou a mesma confusão que eu procurei para a minha vida: começou a mexer com futebol, presidiu o Moto Club de São Luís e levou o Moto, naquela época, a disputar o Campeonato Brasileiro pela primeira vez. Essa parte eu conheço muito bem e sei das dificuldades. Eu não poderia deixar de fazer o destaque da relação de um filho com o pai, dessa proximidade aí do Joaquim com o pai dele, o que fez com que, por várias vezes, o Joaquim ajudasse o Moto, mesmo sendo boliviano. Eu só posso dizer aqui, Joaquim, de coração, muito obrigado por honrar esse legado do seu pai e pela generosidade que nunca lhe faltou, mas que só lhe faz prosperar. O Nagib era um marqueteiro nato. Essa coisa que o Deputado Júlio falou é uma das ferramentas que ele utilizava para fazer mais mobilização num tempo que não tinha rede social, não tinha absolutamente nada ali, ele fazia esse movimento na cidade com as crianças, utilizava aquele princípio de “quem cuida dos filhos está também adoçando a boca dos pais”. Então, de uma maneira muito genial, ele tinha essa sacada e era conhecido inclusive naquela época como Deputado Bombom, 20 anos distribuindo bombom. O Nagib viveu pouco, isso é verdade, não completou nem 60 anos, é muito difícil hoje em dia a gente aceitar, Deputado Arnaldo, que uma pessoa com uma vida tão ativa, que estava chegando ao clímax da carreira política, vá antes dos 60 anos num país que tem uma expectativa de vida aí em torno de 73 anos para o homem e 78 anos para a mulher. Então, ele poderia ter vivido muito mais, mas Deus não quis, e quem de nós vai questionar o que Deus quer na nossa vida?! Ele trabalhou no comércio dos 13 aos 59, na política começou cedo, dos 23 aos 59, e fez muita coisa nessa passagem. 20 anos como deputado estadual, 8 anos como deputado federal, teve a oportunidade também de ser deputado federal inclusive constituinte, eu estava pesquisando, então trouxe um legado até para a história do país mesmo, vocês que tiveram tijolinhos naquela construção da democracia naquele momento tão importante, e por 4 serviu como secretário de Estado e também foi administrador do município de Zé Doca, quando foi criado. Apenas 7 meses de presidência desta Assembleia, período muito rápido, lembro quando fui diretor do Socorrão por 7 meses e 7 dias, outra coincidência, dizem que 7 é conta de mentiroso, mas é a verdade. Assim, 30 anos depois, eu tenho a satisfação de receber uma ligação do Bráulio me sugerindo: “Vamos fazer um pronunciamento aqui para homenagear os 30 anos de passagem do nosso Deputado e ex-Presidente Nagib Haickel”. Eu digo: “Vamos, Bráulio”. Primeiro porque, pequenininho, eu escutava o programa do Zé Raimundo na TV, ali miudinho, o Zé Raimundo não sei se está aí hoje, chegava a assistir porque se tratava disso no programa também. Então, pelo carinho que tenho a ti, o respeito também, fiquei muito feliz de ter essa missão gloriosa, diga-se de passagem. Joaquim me falou sobre alguns fatos interessantes enquanto o Nagib era presidente desta Casa. Primeira coisa: ele tratava bem deputado de oposição, não era o costume vigente naquele período. Então, ele inaugurou um novo período, um novo modelo de tratamento. E eles, inclusive, quando precisavam do presidente para alguma missão no mister difícil de ser oposicionista no Maranhão, eles tinham o apoio, porque para o presidente importante era o fortalecimento do Parlamento. Tolo é aquele que acredita que uma subserviência total ao Executivo vai levar a Casa a um lugar, a um patamar distante. E, graças a Deus, os presidentes que sucederam o Nagib, nessa Casa, entenderam isso, que é a importância do Parlamento ter tamanho. Funcionários mais antigos aqui ainda contam uma coisa muito interessante, foi outro episódio... então, funcionários antigos, eles trouxeram uma história que também é muito interessante: quando o Vila Nova teve um infarto, ele antes teve uma briga com o deputado Nagib, eles quase chegaram às vias de fato aqui na Casa. E contrariando todas as expectativas foi Nagib que primeiro socorreu o Vila Nova e só saiu do lado quando ele estava hospitalizado, porque ele costumava dizer o que um grande homem diz: Não tem inimigo, tem adversários. Mas quando a gente sai dessa arena, desse coliseu político, tinha que acabar, porque no final ali tem histórias de homens de família, de pessoas com suas vidas, isso aqui tem que cessar. E muitas vezes, eu me sinto assim também nessa posição das pessoas não entenderem isso, que essa pessoa que sobe à tribuna traz temas, que são necessários, porque a gente tem que dá a voz aquilo que a gente acredita e as pessoas que acreditam a gente nos pedem também. Porque o deputado ele é um porta-voz. O deputado que ele acha que ele é senhor de si mesmo, ele está muito enganado, ele não vai ter vida longa na política. Por isso que eu vejo homens como Arnaldo Melo... acho que já é oitavo mandato, deputado seu aqui? Porque são homens que serviram os desejos do eleitorado dele, de quem acredita nele todo esse período. O único desiderato possível desses grandes homens é o das pessoas que neles acreditam, nas bases, nas pessoas que os estimulam. Eu não tive o privilégio de ter convivido com ele, mas quem teve dizia que era um homem incrível, um homem de grande inteligência, carismático e um amigo que se podia contar. Graças a Deus, como benchmarking, aí como modelo para política, a gente tem pessoas que, não com a mesma originalidade, mas que seguem muito esses princípios. Pelo que eu pude perceber quando escrevi essas linhas aqui pra esse discurso, que eu peço que sejam incorporados aos Anais da Casa, tanto no comércio quanto na política, o homem, realmente, era um mestre, pessoa que não é comum, é raríssima ser vista nos dias de hoje. No último 07 de setembro, completaram-se 30 anos que o Nagib nos deixou, mas para quem conheceu, está por aí, vive, está aqui no Plenário, está na política, está dentro desta Casa. Deputado Arnaldo Melo.

 

O SENHOR DEPUTADO ARNALDO MELO (aparte) – Ilustre Deputado Yglésio, antecipadamente, agradeço pelo aparte concedido por Vossa Excelência, mas eu não poderia deixar de cumprimentar a memória deste grande homem, que foi Nagib Haickel, eu tive a felicidade de dividir Plenário com ele, naquela ocasião, na nossa saudosa Rua do Egito, e posso confirmar tudo o que Vossa Excelência declara, nessa manhã, aqui no Plenário, que traz o nome do nosso Nagib Haickel. Devo lhe dizer, deputado Yglésio, que quando conheci Nagib, eu fiquei, de certa forma, assim, um pouco perplexo com a forma com que ele tratava as coisas, parecia que ele estava falando com o quintal da casa dele ou com o Palácio do Planalto, para ele era tudo igual, falava geralmente com a voz muito forte, muito alta, e destemido. E eu que chegava naquela época, cheguei em 1990, convivi muito pouco com Nagib, mas tive a honra de recebê-lo na minha residência, em Passagem Franca, como tantas outras oportunidades e aprendi muita coisa com aquele homem simples, como V.Exa. citou, que ele se identificava como caboclo do Pindaré, comedor de tapiaca; tapioca e tapiaca. Tapiaca e mandubé.

 

O SENHOR DEPUTADO DR. YGLÉSIO – Tapiaca e mandubé.

 

O SENHOR DEPUTADO ARNALDO MELO – Exatamente, era a frase dele. Mas entre tantos ensinamentos que ele nos deu, um eu levei pra minha residência. Certa vez, ele chegou naquela Assembleia, eu gostaria de registrar isso aqui para o meu irmão Joaquim, e ele um pouco preocupado que estava correndo muito, estava muito apressado na vida e que sempre que saía dava um beijo na nossa querida Clarice, e deixava no banheiro a escova de dente com o creme dental já colocado na escova. E eu achei aquilo um gesto tão simples, mas tão profundo, tão carinhoso que eu passei a adotar aquele gesto com a minha companheira. São pequenas coisas que a gente sente a sensibilidade daquele ser humano. V.Exa. citou aí agora o episódio da doença de Vila Nova. Eu aproveito pra relatar, entre tantos, que eu passaria amanhã aqui inteira citando. Certa vez, ele teve um imbróglio muito sério também com nosso colega Dutra, ex-deputado estadual, negócio seríssimo, lá em Plenário. No dia seguinte, eu entro na Assembleia, quem eu vejo entrando no gabinete do Dutra? O presidente da Assembleia, o Nagib Haickel. Foi procurar o Dutra para pedir desculpa. É um gesto que realmente nos ensina demais. Presidente do Poder Legislativo, numa questão de Plenário, discutiu com o colega e ele foi lá conversar e pedir desculpa para o colega. É um ensinamento muito grande que eu levei isso comigo na minha vida. Eu poderia também te dizer, diante de tantas colocações felizes, que você faz nessa manhã, meu colega Yglésio, e que é levado à tribuna dessa Casa como excelente parlamentar, por isso que é chamado de excelência. Nagib foi um homem que viveu intensamente a vida. Nagib foi um homem que viveu intensamente a política. Mas ele não viveu da política, ele viveu a política. Eu não sei como ele tinha tempo, meu querido Joaquim, você que é um pouco mais novo do que eu, com as cadernetinhas dele aqui no bolso, anotando tudo que acontecia, que ele não podia resolver naquela hora, eu acho que na hora que ia dormir ele resolvia os problemas dele, mas não abandonava a sua atividade, que era o sustento da sua família, e não deixava de atender nenhum dos colegas parlamentares ou político que o procurasse. Então, eu digo sempre que o Nagib foi um homem que viveu intensamente tudo. Ele viveu com intensidade os anos que Deus lhe concedeu, na política, no comércio, na empresa, na sociedade, de todas as formas. E como já estamos na tolerância do tempo, eu gostaria de registrar aqui, Joaquim, mais o ensinamento do mestre Nagib Haickel. Nesses anos atrozes pré-eleitorais, deputado Yglésio e caros colegas, que estão a nos ouvir, todos nós sentimos aquele sufoco da pressão dos auxiliares dos governos, os nossos secretários de Estado. Isso acontece nos estados, com os deputados estaduais, acontece no governo federal, os ministros pressionando os seus estados, suas lideranças. E os deputados, muito angustiados, vinham reclamar para o Presidente Nagib: “Nagib, como é que nós vamos fazer, rapaz? O secretário tal está tomando os meus eleitores, está levando vantagem do governo, está tomando minhas bases!” Certa vez, ele saiu com a seguinte frase: “Caros colegas deputados, a eleição é o ano que vem. Vamos ter paciência. Quando o vento de abril correr e o campo pegar fogo, jurará não ri do outro”. O que ele quis dizer? Que quando a coisa esquentasse mesmo, todo mundo perdesse as secretarias, jabuti que tem a perna do mesmo tamanho do outro não ia ter para onde correr. E eu passei a analisar, Joaquim, aquela sabedoria daquele caboclo do Pindaré que muito me ensinou. Muito obrigado. Quando correrem os ventos de maio e o campo pegar fogo, jurará não ri do outro.

 

O SENHOR DEPUTADO DR. YGLÉSIO – É isso mesmo. Deputado Arnaldo, esse seu depoimento no final nos enche de alegria, porque foi uma coisa muito verdadeira. O Nagib, para finalizar, com certeza, depois de toda essa revisão histórica em 30 minutos, 30 anos de saudade em 30 minutos de exposição aqui do Grande Expediente, só nos leva à conclusão de que ele não é daquelas pessoas que deixam apenas saudade, mas das pessoas que fazem falta. Portanto, salve Nagib Haickel! Muito obrigado a todos.

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